terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Capítulo 1 - Stories To Remember

Escrito por Ísis Ximenes às 18:39 0 comentários
Publicado 17/02/15

Capítulo 1

~ Como é ser eu ~

Acordei mais uma vez no meio da noite com um sonho ruim, o mesmo de sempre. Após o acidente dos pais de Lice não venho dormindo bem, tendo sempre a mesma coisa ruim na cabeça. Já faz dois anos e não consigo parar de pensar no caminhão vindo do nada e acertando o carro em cheio, tudo ficando escuro, um flash, e a escuridão novamente.
Dizem que eu não devia ter sobrevivido, levando em conta que a parte mais destruída do carro era a que eu estava, mas saí de lá ilesa e desde então minha vida vem sendo estranha. 

Levantei da cama e vi Sayle dormindo na bicama ao lado. Era uma semideusa, cria de Hades com um humano. Ela parecia gostar muito de mim e ao mesmo tempo tinha medo. Eu a adorava e sentia necessidade de protegê-la, mas se um dia tivesse que ir embora ela não poderia vir junto. E se este dia fosse hoje? E por que ela não poderia vir junto? Bom, eu e Lice estamos fugindo e viemos frequentando algumas escolas em diversas parte do país, esta é a que estamos a mais tempo, mas por sermos vampiras iríamos de volta para a Academia assim que nos achassem. Se nos achassem. Ela por ser apenas semideusa (sem a parte vampira da coisa) iria ser mandada para o Acampamento e nós para a Academia. 

Bom, é uma história bizarra mas o que eu sou já deu para entender. Isso não acontece todo dia, não é? Quer dizer, não no mundo humano. Então sou Izzy Lockwood, ou só Lockwood, até Iz se preferir. Sou uma garota que vivia com a mãe Dampira no meio dos humanos, achava que era órfã de pai, mas aos 3 anos fui mandada para a escola e as coisas vieram ficando estranhas. Soube mais tarde que minha mãe deixou uma carta me explicando tudo, mas só podia abri-la aos 10 anos. Esse dia foi bizarro, aniversário de uma década de vida, tudo incrível, até que um Strigoi e uma Fúria entram na sala e começam a destruir tudo, animador não é? Tinha acabado de ler a ultima frase "te amo minha filha, cria de Ares, Dampira protetora." Acabei com os dois monstros, e dali eu e Alice fomos transferidas para a Academia St. Louis, em Montanna. 

Alice é uma Moroi, filha de Hermes, minha protegida e a ultima de sua linhagem. Não dominava nenhum elemento aparentemente. Tinha cabelos cor de mel puxados para o loiro, olhos esverdeados, e uma magreza de dar inveja a qualquer modelo humana. Minha amiga desde que nos considerávamos gente. Era brincalhona, gentil, cuidadosa e fiel. Carregava nas veias o sangue mais real do mundo Moroi, o sangue dos Katrygon. Após o trágico acidente seu clã se reduziu a apenas um integrante, ela.

Então, Moroi são vampiros que tem a capacidade de controlar um dos quatro elementos e tem sede de sangue, a maioria dos que residem na Academia são da realeza tendo lá suas exceções. As mulheres Moroi são de uma beleza sobre-humana, afinal, não são humanas. São altas, com pouco seio, e normalmente pálidas. Os homens Moroi apresentam as mesmas características. Todo Moroi tem o poder da Compulsão. E o que seria isto? Ele pode fazer com que os outros façam o que ele quiser. Com Dampiros é quase impossível, mas Moroi entre Moroi, ou com Humanos, é muito fácil, a menos que você esteja brincando com um usuário não especializado. Eles também não são muito fãs de pegar sol. Não chegam a se queimar, mas é bem desconfortável.

Já Dampiros são os guardiões destes, que tem todas as habilidades do mais forte dos humanos, aumentada quase 200 vezes, não necessitam de sangue, porém tem presas maiores que dos humanos, mas não maiores que de Morois. Eles tem a aparência parecida com a dos Humanos, porem seus reflexos, instintos e força, são maiores. Muito mais desenvolvidos. A maioria é mais moreno, ou mulato, pois passam mais tempo embaixo do sol, treinando. Mas não é regra. São mandados para a Academia para treinarem, treinarem para serem Guardiões, para proteger os Moroi, pois sem eles sua ração não existiria. 

Agora, além da existência de Moroi e Dampiros, pode haver semideuses destes. Meio Dampiro meio Deus, meio Moroi meio Deus e meio humano meio Deus. Nos dois primeiros casos são considerados "Semideuses de Vampiros", no segundo, "Semideuses de Humanos". 

Bocejei e fui até o banheiro, me apoiei na pia e, ah, céus, minha cara estava horrível, sentia-me fraca e terrivelmente cansada. Lavei o rosto e voltei para o quarto, a janela estava aberta deixando uma brisa fria entrar, passei a mão no braço e vi Lyncon, o gato preto de Sayle, no parapeito da janela, observando o movimento das árvores, mas o bichano estava completamente assustado, tanto por conta de seus pelos arrepiados, como pelo guido que fazia.

Estranhei aquilo, pois ele só agia assim com uma coisa, a minha presença, a presença de uma Dampira, e num nível muito mais baixo. Fui até a janela para tira-lo de lá antes que se jogasse. Lyncon miou alto e passou por cima de mim indo para a cama de sua dona e deixando um arranhão em meu pescoço. Levei a mão ao ferimento e juro ter visto alguém embaixo de uma árvore. Sendo assim pisquei os olhos tentando acostumá-los mais rapidamente a escuridão da noite. Sim, tinha alguém naquela árvore, um homem, forte, estatura mediana, em uma pose militar me observava sem pressa, vestia roupas negras e um chapéu. 

Balancei a cabeça meio desesperada, não pode ser, não podem ter nós achado. Não agora, não depois de tanto tempo. Senti o sangue escorrer por meu pescoço e ainda prestando atenção no homem o vi levar a mão ao bolso do sobretudo, tirar um telefone e discar algo. Não esperei para ver o resto. Corri para fora do quarto, parei no corredor e localizei o quarto de Lice, três portas à direita. Fui até lá, abria a porta com a chave reserva, e vi Lice dormindo na cama, a peguei e joguei-a por cima do ombro, sua mochila estava arrumada, como deixamos toda noite, justamente para ocasiões como esta. A peguei também e levei as duas de volta ao meu quarto.

- O que houve? 


Perguntou sonolenta e se ajeitando na cama, com Lyncon em seu colo.


- Temos que ir, agora - 
Falei com urgência.

Ela deu um sorriso triste e percebi seu olhar em meu pijama branco, agora todo manchado de sangue, estendeu a mão em direção ao ferimento. 

- Não faça, sabemos o que acontece. 



- Ah, por favor, faz tanto tempo! - Protestou.

- Não Alice! Te faz mal, me faz mal, e temos que ir logo!

Ela não disse mais nada, levantou levando Lyncon com ela até o banheiro, o deu comida e voltou com minha mochila e necessaire em mãos. Joguei tudo dentro da mochila, peguei o resto de nosso dinheiro no cofre e descemos até a recepção, eu não devia nada aquele colégio, então apenas assinei um papel de compromisso e arrastei Lice até o estacionamento. 

Localizei nosso carro, uma linha reta, chegaríamos nele, e daríamos o fora daquele lugar, compraríamos passagens de avião para alguma cidade no mínimo 3 mil milhas distantes desta e começaríamos tudo de novo. Escola, desapego, fugas. 

Eis meu engano. Faltando apenas 10 passos três homens nos param. Meus instintos me forçam a puxar Lice para minhas costas, longe do alcance deles.

- Dêem o fora! - rosnei

- Izzy, desista, somos três, você é apenas uma. - falou um deles.

- Não desisto fácil e.. - o encarei - como sabe meu nome?

- Você fugiu com a ultima Katrygon, acha que não saberíamos seu nome?

- Argh, nos deixem ir! 

Chutei o joelho do homem a minha frente e empurrei Lice para trás.

- Corre Alice!

- Ma-mas... 

- Eu te alcanço, VAI!

Enquanto ela tropeçava nos próprios pés me joguei no pescoço do cara a direita, com uma tesoura o derrubei de cabeça no chão, ficando assim, inconsciente. Os dois restantes vieram para cima de mim, acertei um na boca do estomago e o outro no nariz. O primeiro caiu de joelhos, o segundo apenas balançou a cabeça e avançou novamente. Nos atracamos e ele não ousava me bater, mas tentava me imobilizar. Depois de escapar de quase quatro de suas tentativas me afastei um pouco para respirar. 

E com esse vacilo tudo foi por água a baixo. No primeiro passo que dei para trás o outro homem me segurou pelo pescoço com um mata leão. Escutei o barulho do carro no mesmo momento que colocaram algo cobrindo minha boca. Apaguei.

Acordei horas mais tarde dentro de um avião. Jatinho para ser mais exata. Olhei em volta, um Guardião conversava animadamente com uma aeromoça, Moroi. Então... não deu certo? Ou deu certo e já estamos fugindo?

- Awn, pra onde estamos indo? - perguntei com receio.

- Para casa. - disse ríspido e voltou a tagarelar baboseiras com a mulher.

Suspirei, me levantei, e fui atrás de seguir outras vozes, uma que eu bem conhecia. Chegando na outra parte do jatinho vi Alice de costas conversando com três garotos mais ou menos da nossa idade. Em outros assentos duas garotas conversavam olhando uma revista de moda.

- Ei! Não é sua amiga? - gritou o loirinho do grupo me chamando com a mão.

Lice se virou e sorriu, com isso senti em mim uma sensação de paz e tranquilidade. Sentei ao lado dela e a abracei.

- Awn, oi? - levantei a sobrancelha e os encarei - Come se chamam?

- Estes são Rodrigo, Iuri e Daniel. - apresentou Alice.

- Ah, prazer, sou... - Rodrigo, o loiro, me interrompe - Izzy Lockwood, todos sabem. 

- Sim, Izzy... mas e a educação? Não lhe deram? - Iuri riu alto e se levantou para apertar minha mão.

- Iuri Vasconcelos, filho de Ares, é um prazer - sorriu e eu retribui. Um irmão afinal.

- Que belo sorriso novinha! - disse Daniel, descaradamente, interrompendo qualquer resposta que eu pudesse dar à Iuri.

- Nem tão novinha assim... - corei.

- Qual sua idade? - questionou Iuri.

- 16... 

- Há! Sou mais velho! - Gritaram os três em uni som 

- Idiotas. 


Eles começaram a zoar comigo e Alice só sabia rir. Ali os observando percebi que não eram apenas crias de Deuses com humanos, se estavam indo para a Academia deviam ser no mínimo meio vampiros, e os olhando bem vi que Rodrigo e Iuri tinham olhos e reflexos atentos à tudo, enquanto Daniel era relaxado e prestava mais atenção na taça de vinho que tinha em mãos. Fisicamente todos eram branquelos, Rodrigo era loiro, Iuri e Daniel tinham cabelos castanho escuro, quase negros, todos com um porte atlético forte e cerca de 1,70 de altura. 


-Awn, Daniel, Alice... vocês dois podem me dar licença um segundinho? - eles me encararam.

- Ah, quer falar com... eles? A sós..? - perguntou Alice tentando raciocinar.

Assenti com a cabeça e então os dois se levantaram e foram falar com as meninas. Senti transbordar em mim um sentimento de medo mesclado com preocupação. Respirei fundo e me virei para os dois restantes.

- Dampiros, então?

- Não sei como não percebeu antes... - ironizou Rodrigo, o ignorei. 

- Filhos de quem, então?

- Ares - disseram juntos - e você? - Indagou Iuri colocando os pés em cima da mesa que nos separava.

- Ares - sorri - olá irmãozinhos. 

- Ahhh, não acredito cara! Além de chata tem que ser minha irmã?! - alfinetou Rodrigo cruzando os braços e chamando a atenção dos outros por conta do barulho.

- Deixa de ser retardado, não quero saber se gostam de mim ou não, quero saber por que estão aqui, e pra onde estamos indo e por que estamos indo! 

- Então... por onde começar? - Iuri perguntou fitando Rodrigo.

- Do começo quem sabe? - debochei - Vamos, contem tudo. 

- Certo... sabe aquele garoto ali? - apontou - o Daniel? Então, ele é sobrinho-neto da Rainha Serena.

Iuri disse aquilo na lata e o encarei totalmente abismada. Serena era a Rainha do mundo vampiro, o ser mais prestigiado e respeitado possível. Era um Moroi com mais ou menos 55 anos, sinceramente eu não gostava dela, mas tinha de aceitar que se ela quisesse poderia arruinar minha vida em um estalar de dedos, só por prazer. Os semideuses de humanos não a obedecem obrigatoriamente mas a partir do momento que ela impôs uma lei a todos, e os Deuses aprovaram? Ah, ai até os humanos são obrigados a aceitar.

- D-d-daniel é... é um... Ivaskov? Daniel Ivaskov? É serio isso? - Rodrigo riu - E aquelas duas?

- Ah, são Rebeca e Natasha. Como já da pra perceber, Moroi. 

- E o que fazem aqui? Para onde vamos?

- Você não é a única fugitiva não. Nós cinco, contando com as meninas, fugimos há uns seis meses para curtir Las Vegas. E agora que acharam vocês duas decidiram nos buscar. Ordens da Rainha.

- Da Rainha? Ah, não bastava o sobrinho-neto dela, a própria Rainha pediu para nos trazerem de volta? Então estamos indo para a Academia? Dois anos fugindo! DOIS ANOS! - Iuri abriu a boca para falar mas nenhum som saiu - Você tem noção do que passei?! Tem noção? Não tem! Que idiotice!

Esmurrei a mesa fazendo meus irmãos se afastarem. Me levantei e andei de um lado para o outro, Lice me olhava preocupada e cada vez mais sentimentos ruins transbordavam dentro de mim. Depois de organizar parte de meus pensamentos me virei para onde estava pouco antes sentada.

- Se ele é um Ivaskov, e todos vocês fugiram, onde estão os Guardiões?!

- N-n-não temos, eram apenas eu e Rodrigo. 

- Apenas dois "Guardiões" para três Moroi?! QUE IRRESPONSABILIDADE! Tem noção do que podia ter acontecido?! A essa hora estariam todos mortos! Ou pior! Poderiam ter virado STRIGOI!

Todos ficaram em silêncio diante de minhas palavras. Strigoi são seres sem o menor pingo de humanidade, e só é possível tornar-se um de duas maneiras; sendo subjugado por um e depois alimentado pelo sangue do mesmo, ou então se um Moroi matar alguém ao se alimentar, sendo assim o Moroi, Dampiro ou Humano, perde toda sua habilidade natural, não é mais a mesma pessoa, não pode dominar mais nenhum elemento, fica fora de si, vira apenas um monstro sedento de sangue, sangue quente, direto das veias. 

Abaixei a cabeça repensando minhas palavras. Eu não estava errada, nenhum pouco errada, tirando o fato de ter fugido com Lice e ficando nas mesmas condições que eles, a diferença é que eu era capaz de protegê-la, eu era capaz salva-la, eu nascera para ser sua Guardiã.

- Afinal, algum de vocês dois é um Guardião de verdade? Que chegou a se formar? 

- Eu - disse o loiro - Eu me formei, só não fiquei tempo o suficiente para me designarem um Moroi.

Ele virou de costas e exibiu a Marca da Promessa. Uma Tattoo em formato de raio que somos obrigados a fazer no dia da formatura do 3º ano. Provando assim que tivemos os treinamentos necessários para ser um Guardião. Além da cerimônia de conclusão do Ensino Médio nos é designado um Moroi para protegermos, irmos aonde ele for, e como o "bordão" da Academia sobre isto... "Eles vem primeiro".

Respirei fundo tentando me acalmar e sentei novamente. 

- Já tem algum em mente? - perguntei, me acalmando.

- Ela - ele apontou com a cabeça para Natasha - Com certeza.

O encarei com certa preocupação. Ele teria de lutar muito para conseguir a guarda da garota, pois geralmente se designam Guardiões de mesmo sexo que o do Moroi. Evitando casais, para evitar alguma possível relação, entre tudo, com o baixo numero de Dampiros atualmente quem sabe ele não consiga? Claro que não se aplica a realeza, se ela tiver o sobrenome de um dos 12 clãs, pode até requisita-lo.

- E você Iuri? Depois que se formar, seja "o que Deus quiser" ou vai brigar pela guarda de algum?

- Não sei bem, mas protegeria Daniel com certeza, ou Beca talvez... 

- Daniel teria no mínimo mais um Guardião além de você, e Rebeca... ela não é da realeza né?

- Como sabe? - Questionou o moreno.

- Seu físico. Aos contrario das outras, ela é baixinha. Na realeza quase não se vê isso, na verdade só vi uma ou duas vezes até hoje.

- Você realmente sabe das coisas hein... - riu e pigarreou em seguida - Mas então, falando de você agora, quem seria seu protegido? Alice?

Incomodei-me um pouco por ele ter desviado o assunto sobre Beca, mas decidi não persistir, não agora.

- Sim, se tudo der certo - falei desconcertada.

- E por que não daria certo? - indagou Rodrigo se metendo na conversa.

Não me acham "boa companhia" para ela. Com certeza posso protegê-la, mas não concordam comigo, acham que só vou trazer problemas...

- Chave de cadeia... - sussurrou o loiro.

- Tipo isso... - sussurrei de volta.

Um silêncio constrangedor se pôs sobre nós. Iuri incomodado se levantou de uma vez batendo na mesa com as mãos irritando minha audição apurada.

- Então, é isso! Vou dormir um pouco... - ele saiu em direção as camas retrateis que haviam no jatinho. Encarei Rodrigo.

- Vou ir conversar com a Natasha e a Beca, aconselho você falar com os outros dois, sabe, explicar a situação e tal. 

Assenti e ele saiu. Eu não queria contar nada para Alice ainda, ela se preocupa demais, e ainda se coloca a culpa por coisas sem pé nem cabeça. Todos meio que já sabiam parte da história, mas preferi deixar os detalhes para mais tarde. Encarei o chão e antes mesmo de chamar algum deles Daniel sentou-se à minha frente.

- Então temos uma Dampira aqui? - sorriu galanteador.

- Exato, e então temos a alta realeza presente aqui? - contrapus. 

- Oh, sem títulos por favor, apenas Daniel.

- Que bom, pois me recusaria a lhe chamar de Lorde ou Príncipe. - joguei-lhe um sorriso brincalhão e a aeromoça veio até nós.

Daniel pediu um Whisky caro e... "A Bebida dos Deuses". Apenas um outro nome para "sangue" com uma pitadinha de néctar. Ele se ofereceu para pagar algo para mim, neguei e então a aeromoça saiu, voltando pouco depois com o pedido. 

- Aceita um pouco? - perguntou Daniel me estendendo uma dose de Whisky. 

- Ah, não, obrigada. - Com Moroi por perto nunca se sabe quando é preciso "trabalhar".

- Não sabe o que esta perdendo! - Debochou e me lançou um olhar carente para a aeromoça, que fingiu não ver e foi embora.

O tal sobrinho-neto da Rainha bebeu um gole do caro líquido oferecido à mim pouco antes e pegou a taça com sangue. Engoli em seco.

- Não beba isso perto de mim. É nojento. - Impus. 

- Nojento?! Isso é apenas a bebida dos Deuses! Com a Katrygon sempre com você... já devia estar acostumada! - Indignou-se.

- Lice não se alimenta perto de mim. - disse ríspida. 

- Ok, desculpe - Envergonhou-se o lorde.

Ele colocou a taça de lado, contrariado, e fez bico. 

- Obrigada Príncipe Ivaskov. - Dei meu mais sincero sorriso.

- Awn, só você para deixar este filho de Dionísio ficar com sede. Se não tivesse ninguém por perto... eu pulava no seu pescoço só de mal! - riu.

Ele estava brincando, dava para perceber isso na sua voz, mas eu me estremeci do mesmo jeito. Aquilo não era algo muito sutil de se dizer para alguém... e eu já havia sido mordida antes.

É, eu já havia sido mordida antes. Por Alice. Foi no ano em que fugimos da Academia. Algo dentro de mim dizia que Lice estava correndo perigo, então contei a ela. Estávamos no quarto dela, no dormitório Moroi, ala feminina, obviamente. 

Ela abriu a porta do quarto com cautela para não fazer barulho, pois após o toque de recolher cada um devia estar em seu quarto, no quarto alheio apenas com autorização da supervisora geral. Eu não tinha autorização. Entrei e sentei-me em sua cama, chamando-a ao meu lado.

 Lice... tenho algo pra te falar. Mas pode não ser nada.

- O que é? Conte-me. 

- Esquece... melhor você não se preocupar. - Repensei, deveria mesmo contar?


- Não! Conte-me! Sério, você tem que me falar as coisas, não e porque sou a princesa que não quero saber dos problemas! Não é por que minha família morreu que estou em luto eterno! Conte! - gritou minha delicada amiga.

- Acho que você pode estar correndo perigo. - 
Falei baixo mas ela escutou e arregalou os olhos. 

- P-perigo? Como... Strigoi? - Arrepiou-se.

- Possivelmente. Mas também tem as outras famílias reais. Se você sumir, o sangue deles volta a ser valioso.

- Sangue Moroi é valioso de qualquer jeito, sendo Real ou não. 

- Sei disso... estava falando no sentido de Riqueza, realeza, etc. Sem a família Katrygon os Zeklos ficam em primeiro no sentido realeza, como o sangue mais valioso.

Ela não disse nada. Apenas assentiu com a cabeça e ficou olhando pro nada com aqueles olhos verdes preocupados.


- O que quer fazer? - questionei sem pressa.

Houve uma longa pausa em seguida, até que ela sussurrou.


- Fugir.


Dito e feito. Estávamos no começo do ano e as aulas não tinham começado ainda. Ela apenas pegou uma mochila e colocou algumas roupas dentro, escova de dente, o celular e casacos. Fechou a mochila e foi pegar algo. Voltou pouco depois e me jogou um bolo de dinheiro e um cartão de crédito internacional. 

- Melhor ficar com você. Eu posso acabar fazendo alguma besteira. Vamos? - Disse objetiva.


Assenti enquanto colocava o cartão e o dinheiro no bolso da minha calça. Joguei a mochila nas costas e saímos da casa. Ah, tudo muito semelhante ao dia de hoje. Pensei.


Lice morava sozinha num apartamento luxuoso na cobertura, ao sairmos o porteiro sempre perguntava se ela já estava "acompanhada", no caso, de Guardiões. Hoje foi meio tenso convencê-lo de que eu era suficiente. Alice, infelizmente, teve de usar a Compulsão. Chegamos lá e eu fiquei vigiando ao redor enquanto ela o fazia. 


- Nós deixe passar. Abra a porta. - Ela impôs ao homem.

- Princesa Katrygon, não posso, onde estão seus guardiões? - perguntou receoso.

- Nós deixe passar. Izzy é minha guardiã. - Terminou de falar e fez um intensivo contato visual.

E foi aí que senti algo dentro de mim. Uma sensação estranha, de raiva, ódio, uma dor interna como se eu tivesse sendo destruída por dentro, eu comecei a respirar ofegante.

- Passem. Aqui esta a chave do seu carro. - ele disse quase como um robô

E foi isso. Assim que passamos pelo portão a sensação ruim se foi. Mas meu humor caiu. Peguei a chave de Lice e corremos para o carro, seu conhecido Porshe preto. Liguei ele e pensei num destino... 

- Para onde vamos? - Minha amiga loira perguntou animada e com adrenalina correndo nas veias.

- Ao aeroporto e para o mais longe de todos, para o mundo humano. - Ditei.

Horas mais tarde estávamos pegando um voo pro Canadá. Nós duas tínhamos dinheiro suficiente para nós mantermos em boas condições, e se necessário a herança dos Katrygon estava a disposição. Escolhi este lugar também por não ter grande quantidade de monstros perambulando por ai, e a quantidade de Strigoi, nosso principal predador, eram de quase zero. O lugar perfeito. 

Chegando lá alugamos uma casinha no interior. Ali descansamos durante boas semanas, eu saía as vezes para comprar comida, outras para vigiar a vizinhança. Sim, lá nós tínhamos nós dado muito bem com os vizinhos, tinha uma senhora que sempre nós trazia um bolinho nas segundas de manhã, e se quer saber, era delicioso! Me fazia lembrar das receitas de minha mãe. Ou seria da mãe de Lice? Enfim.
Conhecemos também um garoto da nossa idade chamado Arthur, ele sempre aparecia para perguntar se estávamos bem, era um doce. 

Cheguei em casa depois de ter ido no mercado comprar umas frutas, e Alice parecia mal. Me aproximei dela.

- Lice... você esta bem? Quer algo? - perguntei preocupada.

- Não! Eu estou ótima! 

Forçou um sorriso e eu peguei em seu pulso, seu coração batia devagar, devagar demais.

- Ah Lice, há quanto tempo você não se alimenta? - Ela balançou a cabeça.

- A uns dias.

- Quantos dias? 

- Não Izzy, não importa, deixa... eu estou bem.

- Quantos dias Lice?! Você não pode ficar assim, fraca! 

- Há três dias Katy... não tem problema. 

Três dias? Chegava a ser um absurdo. Moroi só sobreviveriam bem e saudáveis se se alimentassem no minimo um dia sim um dia não. 48 horas completas sem comida, já era uma agonia. Alice então? Três dias! 

- Vamos, vou arranjar um fornecedor para você, não pode ficar com fome!

- Não por favor, eu não gosto disso, queria ter nascido Dampira! - Fez birra.

- Lice! Você precisa se alimentar! Todos devem estar nós procurando a essa hora e depois descobrem que você morreu de fome?! Não e não! Eu não posso deixar! - Impus apontando para a porta, tentando convencê-la à sair.

- Izzy... eu... ontem eu saí de casa enquanto você dormia... estava procurando alguém para beber, mas não tem ninguém... - gesticulou desesperada - não tem mais ninguém!

Parei para pensar tentando processar aquelas palavras. "Não tem mais ninguém". Me aproximei dela e estiquei o pescoço.

- Vamos, "beba" de mim. - Disse sem certeza.

- Anhh... O que?! Você tá louca?! - Se afastou de mim.

- Vamos Alice, eu não vou sentir nada, pode se alimentar de mim, não se preocupe, sou sua Guardiã e tenho que te proteger.

- Dos Strigoi e outros monstros! Não disso!

- Tenho que te proteger de tudo, fome, Strigoi, monstros... tudo!

Ela ficou calada e depois de um tempo passou a mão na garanta, levando em seguida a barriga e enfim suspirou.

- Tudo bem... mas me desculpa, por favor, me desculpa, você sabe o que a mordida faz... desculpa!

- Vamos lá Lice, pode morder, eu aguento. - Forcei um sorriso.

Eu tinha medo daquilo, mas não podia deixar minha amiga morrer. Enfim ela cravou suas presas em mim e senti o precioso liquido se esvair de mim, juntamente com meus sentidos. Eu entrei num estado de felicidade alucinador. Aquilo era pior do que eu pensava, era uma droga! Literalmente uma droga! Eu me sentia fora de mim, depois de alguns minutos Lice se afasta e eu me deito na cama suspirando e com um sorriso abobado no rosto. Eu estava perdendo os sentidos, estava fora da lucidez, era como se estivesse bêbada. Olhei para minha amiga num ultimo segundo e a vi limpar o sangue da boca. Escutei suas ultimas palavras antes de desmaiar. 

- Me desculpe, mais uma vez.

E enfim desmaiei. Descobri que acordei apenas 10 horas mais tarde com Arthur dentro do meu quarto. Imediatamente cobri o pescoço com o cabelo. 

- O que faz aqui?! - Perguntei com urgência.

- A garota Katrygon estava preocupada, ela disse que você foi dormir de tarde e não acordou mais. Achou que você tinha morrido. - Riu e se sentou ao meu lado na beira da cama.

- Quase isso, estava morta de sono. 

- Esquece Izzy, não tente mentir para mim. - Me lançou um sorriso brincalhão.

- Annh... Mentir?

- Sou um Alquimista. Sei o que vocês duas são. 

- Hein? Alquimista? Por acaso andou comendo Flor de Lótus estragada? - Ele me ignorou.

- Quantos anos você tem?

- V-vou fazer 15. - Ele riu mais uma vez.


- Por isso... então Izzy, não se preocupe, eu sou um Alquimista e geralmente vocês só aprendem sobre nós por volta dos 17 e 18 anos, a menos que façam muita besteira.

- O que? Mas... você é humano!

- Sou. Quer dizer... não totalmente. - Mordeu o lábio inferior e se apoiou no cotovelos. 

- Mas eu nunca senti nada diferente em você, nunca vi nada diferente. - De fato, eu estava confusa.

- Normal. Já eu, não. Eu sou humano, 100%, mas tenho um... dom, de conseguir "ver" vocês,  de conseguir saber que são assim, tanto com Semideuses como Vampiros, ah, claro, nos aprendemos desde pequenos a dominar alguns feitiços. 

- Até através da névoa? - Arthur confirmou com a cabeça - Você é algum filho de Hécate? - Ele negou - Isso é demais para processar.

- Olha, finja que eu sou apenas seu amigo que sabe do segredinho de vocês e pronto. Depois que você voltar à escola você aprenderá sobre mim. 

Hum.. - Se eu voltar a escola. Pensei. - Mas o que você quer?

- Te ajudar com isso aí.


Ele apontou para meu pescoço. Com receio prendi o cabelo exibindo a mordida. 

- Wow, Alice estava com fome hein? - brincou, ou tentou.

Eu ia perguntar por que mas ele me mostrou antes trazendo o espelho para perto. Ao redor da mordida estava roxo e o buraco era profundo. Com um timing perfeito Lice entrou no quarto.

- Ah! Não! Me desculpa Izzy! Eu avisei! Ahh, me desculpa! Olha como tá horrível!

Ela se aproximou de nós e se ajoelho ao meu lado. 

- Deixa eu ver. - Pediu

Ela estendeu o braço e tocou o ferimento em seguida senti algo me tomar. Um sentimento estranho porém... familiar, não era exatamente como borboletas no estomago ou um frio percorrendo a espinha, mas com certeza eu já havia sentido aquilo antes. Me virei para encarar os dois intrusos em meu quarto. Seus rostos demonstravam espanto. 

- O que foi? Viram um fantasma? - Arqueei um sobrancelha.

- A... a marca. A mordida... - Alice tremia e encarava Arthur desesperadamente.

- O que tem ela? Piorou?

- Sumiu. - Disse o Alquimista quase num sussurro.

Sumiu. Sumiu? Como diabos isso é possível?

Hein? Vocês beberam o que? Estão loucos? Isso é absurdo, essas coisas não acontecem!

Passei a mão no pescoço. Não havia marca.

- Olhe você mesma.

Ele estendeu o espelho e eu o posicionei a minha frente tentando achar a marca. Nada. Simplesmente nada. Meu pescoço estava como antes da mordida. Intacto. Os encarei.

- O que é isso? Alice... o que você fez?

- Eu... eu não sei. Eu simplesmente te toquei. E sumiu.

E foi isso. Voltei a realidade e voltei-me para Daniel que me encarava de maneira estranha. Como se eu fosse alguma experiência absurda. Ele havia tomado o sangue que tinha na taça.

-  O que foi? Alô? Terra chamando Daniel!

- Escuridão. - Ele disse sem foco.

- Perdão?

- Sua aura. Enquanto você estava perdida no seu mundinho aí eu... eu a vi. - Explicou-me.

- Aura? Você é o que? Um feiticeiro? Vidente talvez? 

Tive medo de perguntar se era um Alquimista, mas pelo que Arthur me explicou Alquimistas geralmente são humanos nascidos na Roma e de uma das 7 famílias especificas que tem este dom.

- Não, é sério, eu posso ver sua aura. Ela é negra. Ah, santo Dio, eu preciso de uma bebida. - Ele levantou a mão balançando uma taça vazia para a aeromoça.

- Hey, pare de beber, me conte antes sobre isso. - Pedi.

- Certo, certo.. - bufou - Todos tem uma aura ao seu redor, algumas são alegres, outras nem tanto, umas tem cor forte, outras meio apagadas. Elas mudam dependendo do humor da pessoa e da condição psicológica dela. As principais cores são azul, verde e tons de roxo, estas três juntas. 

- E como é a minha?

- Normal, porém envolta de escuridão. 

- Você esta louco.

- Talvez. 

Seu olhar era realmente lunático, ele encarava o nada. Segundos depois ele pediu uma bebida e eu me voltei a pensar. Será? Será que Daniel era como Alice? Mas Lice nunca viu auras, se é que o Lorde Ivaskov pode realmente vê-las. A única coisa que Alice fez foi... foi aquilo na mordida. Só. Ou eu estava enganada? Ela já teria feito isso antes? Alice Katrygon não domina nenhum elemento, disse uma especialista da Academia certa vez. Achamos que o ocorrido com a mordida podia ser uma espécie de prévia de algum dos elementos surgindo nela, talvez do fogo que tenha cicatrizado instantaneamente a mordida, talvez a água que limpou o ferimento, talvez nem existisse ferimento, talvez fosse tudo psicológico, imaginação, ilusão, névoa...

- Daniel... qual seu elemento? - Ele focou em mim e sorriu.

- Não me especializei em nenhum.

[...]

Pousamos horas depois. Eu me sentia cada vez mais estressada e Alice vinha o tempo todo perguntar o que havia acontecido, o que só piorava tudo. Suspirei.

- Lice, por favor, pela ultima vez, não aconteceu nada demais, na Academia... - Encarei o chão - quando chegarmos eu te explico. 

Consegui vê-la abrir a boca para protestar, mas sinceramente ignorei. Me juntei aos meninos que estavam a frente do grupo e olhei ao redor, eramos sete, porém três Guardiões nos acompanhavam de perto e mais dois longe, provavelmente por conta de Daniel, a Rainha deveria estar louca para reencontra-lo. 

Peguei meu iPod na mochila, coloquei os fones e bufei. Um longo dia estava por vir. 

- Awn... Izzy? Você tá bem? - Questionou Iuri com uma ruga de preocupação bem visivel em sua testa.

Lhe lancei um olhar significativo. Por sorte o garoto não me incomodou mais. Finalmente os Guardiões encontraram uma Van, possivelmente enviada por alguém na Academia, e logicamente blindada. Ótimo, eu era uma fugitiva procurada, perigosa e estressada. Lindo. 

- Lockwood, esperava mais de você. - Disse Rebeca com um sorriso irônico nos lábios. 

Parei de andar e tirei um dos fones, a encarei sem nenhum pingo de humor. Mil xingamentos me vieram em mente, talvez até soca-la, mas era uma Moroi, haviam os olhos de Alice sobre mim e um Guardião à minha direita. Respirei fundo e levantei o queixo. 

- Perdão?

- Qual é garota! Eu não sei como é a sensação, mas pelo que escuto de Iuri, lutar deve ser bem legal. - Vi Iuri corar ao escutar seu nome - Você deve estar louca para voltar à ativa.

Ela sorriu e o restante de nós parou para escutar. De certa forma Rebeca não estava errada, eu amava ser Guardiã, mesmo que, ainda, não fosse uma. Adorava me superar todo dia, amava infernizar a vida alheia, tinha fama de encrenqueira, bruta, irritante, mas amava o que fazia. Encarei a garota e dei um sorriso descontraído.

- Ah, claro. Arrancar algumas cabeças aqui e ali, por que não? - Levantei a sobrancelha ao final, e voltei a andar. 

Escutei risos atrás de mim, mas em seguida todos já entravam no automóvel. Sentei entre Daniel e Alice, os outros se acomodaram e poucos minutos depois pegamos uma estrada, para um lugar que eu bem conhecia, a maldita e odiável Academia St. Louis.

Os segundos pareciam se arrastar, as músicas gritando em meus ouvidos pareciam não ter fim, o mau humor só aumentava, metade das criaturas nesse carro haviam dormido e a unica desgraça, Daniel, persistia em ficar acordado e me cutucar. 

- Daniel, Lorde, príncipe ou seja o que for, você pode, por Ares, parar de me cutucar? Ou prefere levar um soco no meio do nariz e sermos obrigados a parar o carro para que algum Guardião me espanque por mal comportamento? - Disse o segurando pelo punho.

- Meu deus garota, pra que esse humor tão sombrio?! Só ia te oferecer algo pra beber! Aproveite que as aulas ainda não começaram. Beba, divirta-se! Depois daqui você só vai ter trabalho, trabalho, trabalho. 

Ele gesticulou com uma taça em mãos, que eu tinha quase certeza que ele havia trago consigo do jatinho. Balancei a cabeça como se aquilo fosse a ideia mais absurda do mundo, e de fato era. Estávamos completamente visíveis, sem um escudo forjado com os quatro elementos um Strigoi podia nos atacar, ou então até algum outro monstro podia nos farejar. Mesmo com 5 Guardiões formados eu não confiava.

- Esqueça Daniel, por favor, só me deixe dormir antes que eu te soque de verdade.

Ele sorriu de lado, decepcionado por não ter com quem beber, não disse mais nada e se virou. Suspirei pela milésima vez e encostei a cabeça na fria janela do carro. Como? Depois de tanto tempo, dois anos, como pude deixar acontecer de forma tão estupida? Se eu não tivesse parado para respirar, se tivesse nocauteado mais um deles podia correr para o carro e dar o fora dali, fugir com Alice, definitivamente, ir para longe e nunca mais voltar. 

Pensando em tudo e nada, dormi. 

Acordei horas mais tarde com vozes agoniadas, como crianças que estão para chegar num grande parque de diversões. Meus, se já posso considerar, amigos, estavam se debruçando nas janelas do automóvel para ver a imensa construção que havia no final da estrada de areia que seguíamos. A Academia se mostrava alta e imponente, com seus quatro grandes prédios e um campus de tamanho indeterminado, tudo num tom rustico e elegante, mas ainda assim, moderno. A propriedade era escondida dos olhos humanos, ou 100% humanos. Foi construída séculos atrás no centro de vale totalmente escondido por montanhas e elevações. Para nós é uma localização perfeita, dificulta rastros, é longe de tudo e todos, ideal para esconder mais de mil Vampiros e Semideuses. 

A Van se aproximava sem pressa do portão principal, acompanhando a estrada e evitando seus buracos. Não pude deixar de sorrir, ali era meu lar afinal. 

Chegando no portão o motorista, um Dampiro, desceu e foi falar com outros Guardiões que estavam de vigia no portão. De lá podia se ver nitidamente o grande território descampado até os prédio que se organizavam em forma de C. Eram os dormitórios, o prédio de administração e o prédio de eventos. Distraída, acabei não percebendo que um dos Guardiões tinha se aproximado do carro e observava cada um de nós com olhos ágeis, dado por satisfeito, volto para seu posto. Cinco minutos depois e muita papelada assinada, enfim, entramos na Academia.

Enquanto atravessávamos os longos quilômetros de grama bem aparada, me aproximei do banco do motorista, apoiada no encosto de braço o encarei. 

- Hm, então... Para qual prédio esta nos levando? - Perguntei tentando dar um sorriso convincente. 

- Para o da administração, claro. - Respondeu seu entusiasmo algum.

- Por que "claro" ? - Questionei inclinando a cabeça para o lado.

- Para fazer a matricula de vocês. A Sra. Ivanov irá gostar de saber dos fugitivos. - Disse dando um sorriso discreto e irônico.

Mordi minha língua e voltei para o bano de trás. Scarlet Ivanov era a diretora da Academia, ela já tinha alguns quilômetros rodados para o cargo mas desde quando idade importa quando somos mandados para a guerra aos 18 anos? 

Me encostei pesadamente sobre o bando e fiz bico. Alice tocou meu braço, virei para encara-la, com uma sensação de formigamento em meu corpo, principalmente atrás da nuca.

- Izzy? Você melhorou? - Ela perguntou me encarando com aqueles olhos castanho esverdeados, muito preocupados.

- Sim Lice, estou bem, não se preocupe... já estamos chegando, agora só temos que encarar Scarlet e dar um jeito de tudo ficar bem. 

- Acha... acha que vão nos separar? - Ela tremia levemente, e logo tirou sua mão de meu braço.

- Nos separar? Nunca, Alice. Sou sua Guardiã, não importa se tenho ou não a marca da promessa, aprendi mais do que qualquer um da nossa idade nesses dois últimos anos. - sorri calmamente - o máximo que pode acontecer é nos condenarem a detenção eternamente. Ou cortarem meus dedos, mas vou precisar deles. 

Ela riu de meu comentário final. 

- Não brinque, não é a hora de fazer essas piadas. - Pediu ainda com um sorriso abobado no rosto.

- Na verdade, é a hora perfeita. - Se intrometeu Rodrigo - Só mais alguns minutos para a forca, princesa. 

Mordi o lábio ao escutar o título esquecido de minha amiga. Princesa. Alice nunca se considerou uma princesa, era só uma garota normal que havia perdido a família num trágico acidente de carro. Só uma garota que fugiu da escola com a melhor amiga por longos dois anos. Só uma garota que por acaso tem sangue de Deus e Vampiro correndo nas veias. Só uma garota normal.



sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 1 - Súcubo

Escrito por Ísis Ximenes às 14:51 2 comentários
Publicado 27/10/12

Bom, meu nome é Scarlett , prefiro que me chamem de Scar. Quando me tornei uma Súcubo eu tinha 14 anos. Muito nova, não? Pois é.
Num dia infeliz eu estava revoltada com o mundo, com minha família, meu namorado, amigos, tudo, todos! Então, decidi me afastar. Fui pra uma praia longe de casa e da escola, para que ninguém me achasse, ah, eu moro em New York, ou como muitos chamam/escrevem "Nova Iorque", enfim, eu decidi ir para alguma praia, a mais longe possível.
Cheguei lá e me sentei num banquinho de pedras, fiquei chorando, fiquei pensando, simplesmente tentando entender o que tinha acontecido.
Rum, e pensar que eu resolvi vender minha alma por um problema besta de adolescente.
E esse problema, sabe qual foi? Eu me senti traída, e de fato eu acabei sento traída mesmo. Eu não me acho muito bonita, tenho cabelos castanhos na altura da cintura, olhos azuis meio esverdeados, e a pele levemente branca, mas hoje estava com um leve bronzeado, e por causa dessa aparência eu acho que ninguém me quer, desde sempre, tipo sempre mesmo, ninguém nunca quis ficar comigo, até hoje só devo ter beijado uns 2 garotos no máximo. O primeiro foi arranjado só pra tirar o BV, e por sinal foi um beijo horrível, nojento, melado, argh. Os outros dois foi em festas de amigas minhas, e o ultimo foi com o meu atual ex primeiro namorado. Deu pra entender? Então, nos estávamos namorando faz uns 4 meses, não é lá grande coisa mas eu estava perdidamente apaixonada por ele, afinal, primeiro namorado a gente nunca esquece né? Bom, eu quero esquece-lo porque esse traira viado filho da puta do caralho me traiu. Me traiu com a putinha da escola!
A gente não tava se vendo direito e eu acho que ele já ia querer terminar mesmo, acho até que ele só namorou comigo por pena. Mas o pior foi que ele beijou ela aos agarros na minha frente! Doeu, aquilo doeu mesmo! Poxa, devia ter pelo menos terminado logo em vez de me fazer corna né?!
Nessa de ficar decepcionada eu fugi de casa, de todos, aí lá estava eu, deitada no banquinho de pedra de uma praia paradisíaca de New York, com a maquiagem borrada, o rosto inchado e vermelho, os cabelos molhados pelas lagrimas que pareciam sem fim. Aí lá, aparece meu 'salvador'.
O Duende chamado Josh veio até mim, eu ainda não o tinha visto mas escutei algo.
– Por que uma garota tão bonita esta assim, sozinha, chorando? - perguntou ele.
– HAHA, é que essa garota foi traída, e teve o coração partido, mas de bonita já vou logo avisando, ela não tem nada! - respondi irônica.
– Pois eu penso o contrario.. mas diga garota, qual o seu nome?
Eu não devia sair falando meu nome para estranhos, mas eu não estava raciocinando direito, e precisava botar tudo para fora.
– Scar, meu nome é Scar. - disse entre soluços.
–Bonito nome! Derivado de Scarlett não é?
– Sim, sim...
– Bom, Scar, você gostaria de se livrar desses problemas?
– HAHA como eu queria! Eu queria ser bonita! Eu queria ser amada! Desejada! Invejada! Tudo! Queria não sofrer nunca mais! - falei revoltada.
Foi só isso que precisou para que ele implantasse aquela ideia em mim.
– Então Scar, você deseja mesmo isso? Porque eu posso fazer isso.. posso realizar o seu desejo. - Falou meio lunático.
– Ah, como eu queria que isso fosse possível. - respondi tristemente.
– Vou considerar isso como um sim!


E ai tudo se tornou luz. Eu parecia estar no céu.
Então do meio da claridão apareceu uma mulher, aparentava ter no máximo 30 e poucos anos, muito bem conservada, loira, alta, corpo esbelto, cabelos quase nos pés.
Ela veio até mim, e se sentou amo meu lado no banquinho de pedra que ainda estava ali.
– Olá Scarlett, meu nome é Lilith sou a Rainha dos Súcubos, e venho lhe... contar uma história, e quem sabe realizar o seu desejo, se assim você quiser. - Falou a jovem mulher.
Mas, o que ela quis dizer com tudo aquilo? O que era um Súcubo? E que história é essa que ela ia me contar? Como alguém iria realizar o meu desejo? Com mágica? HAHA Impossível!
Só que naquela época eu não sabia que era possível. Não sabia que mágica existia, muito menos que existiam seres Imortais, e "Imortais Inferiores". Pois é, tudo isso existe, mas voltamos a tal história de Lilith.
– Mas-s, é impossível realizarem meu desejo.. - gaguejei
– Shhh, não diga isso minha futura filha. - disse me interrompendo.
Futura filha? O que aquela louca estava falando?!
– Deixe-me contar a história. Um vez, depois de toda aquela confusão no Paraíso, da Eva ter comido a Maçã, deles terem sido expulsos e tudo o mais, o homem começou a pecar, e bom, desejos sexuais são um certo pecado quando se é com a mulher do próximo não é? Bom, um homem, pecou cobiçando a mulher do próximo e tirando dela a Pureza que só era reservada ao marido. Eles se tornaram amantes e tanto a mulher dele quanto o marido dela, não sabiam de nada, e este homem corrompido foi atrás de outras e mais outras mulheres. Os Anjos da Guarda vendo que ele já havia pecado demais decidiram o punir, atormentando seus sonhos com Súcubos.
– Ele provou do próprio veneno não é? - perguntei inocente.
– Sim pequena Scar, ele provou do próprio veneno, já entendeu o que são os Súcubos minha filha? - Ela perguntou de forma infantil.
– Acho, acho que sim, seres que seduzem os homens os fazendo.. pecar? - disse vacilante.
– Exato, mas, os Súcubos tem o poder de mudar de forma, elas podem se tornar demônios pavorosos, como também mulheres irresistíveis. Mas isso não fica reservado só para o sexo feminino não, temos os Íncubos, que são os homens.
– Entendo, e elas podem virar o que quiser? - disse já mais animada.
– Sim pequena, podem se tornar o que quiserem, mas dependendo da mudança elas gastam sua energia vital.
– Energia vital? E como elas ganham mais? - perguntei curiosa.
– Com relações sexuais e beijos. Quanto mais culpa um homem sentir durante a relação maior será a energia doada à Súcubo.
– Então se um homem trair a mulher com uma Súcubo e se sentir culpado por fazer isso a Súcubo sai ganhando?
– Exatamente! E você Scar, gostaria de ter estes dons? Você pode absorver o que quiser dos homens, pode te-los aos seus pés! Pode.. dominar o mundo se quiser, e claro, se sua energia vital estiver alta o suficiente até mulheres podem se interessar por você, involuntariamente. - explicou ela tentando me convencer.
E eu já havia me convencido, aquilo era tudo o que eu precisava ouvir: "pode te-los aos seus pés". Tudo o que eu sempre desejei.
– Sim, Lilith. - falei confiante.
– Hum? Sim? - desconfiada.
– Sim! Eu quero me tornar um Súcubo! Quero fazer os homens que traem suas mulheres pagarem! Isso não é justo!
– Então minha filha, você será a Súcubo mais forte deste planeta! Eu lhe dou os dons da sedução, da mudança de forma e da cumplicidade. Você é minha primeira filha em quase dois séculos, e por si só vejo que será forte. Boa sorte para você e o Josh com os "negócios"! - Falou pegando um papel, furando meu dedo e espirrando o sangue pela folha, selando o contrato.


Depois disso ela se foi e eu voltei a praia, com o Josh ainda em pé perto do banquinho de pedra.
– Então Scar, vamos? Tenho que lhe treinar para você sobreviver nesse mundo, e não acabar contando aos mortais sobre todos nós.
– Mortais? Quer dizer, nós humanos? - perguntei.
– Nós? Hahaha, nós não somos mortais! Não mais! - disse aos risos.
– Então, eu já sou... - esperei pela resposta.
– Uma Súcubo? Sim, e se posso dizer, você esta mais linda do que antes! Deve ser a grande carga de energia vital que a Lilith lhe deu.


Então eu já era Imortal, eu agora era uma Súcubo! A mais poderosa de todas!



 

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